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quinta-feira, 24 de maio de 2012


A Armada Espanhola
UMA VIAGEM RUMO À TRAGÉDIA


DO REDATOR DE DESPERTAI! NA ESPANHA

HÁ MAIS de quatro séculos, duas frotas batalharam no estreito canal da Mancha. Essa batalha entre protestantes e católicos era parte do conflito ocorrido no século 16 entre os exércitos da rainha protestante Elizabeth I, da Inglaterra, e do rei católico Filipe II, da Espanha. O livro The Defeat of the Spanish Armada (A Derrota da Armada Espanhola) explica: “Para as pessoas daquela época, o conflito entre as frotas da Inglaterra e da Espanha no canal era uma batalha de vida ou morte entre as forças do bem e do mal.”
Ingleses daquele período descreveram a Armada Espanhola, ou a Grande Armada, como “a maior força naval já vista em mar aberto”. Mas a expedição dessa frota acabou sendo um trágico erro — especialmente para os muitos milhares que perderam a vida. Qual era o objetivo dessa expedição, e por que fracassou?

Por que a tentativa de invasão?

Rainha Elizabeth I
Rainha Elizabeth I
Piratas ingleses haviam saqueado navios espanhóis durante anos e a Rainha Elizabeth, da Inglaterra, tinha dado apoio ativo à rebelião holandesa contra o domínio espanhol. Além disso, Filipe II, que era católico, se sentia na obrigação de ajudar os católicos ingleses a livrar o país deles da crescente “heresia” protestante. Para esse fim, a Armada transportava cerca de 180 sacerdotes e conselheiros religiosos. Até mesmo antes de os navios partirem, todo tripulante da Armada teve de confessar seus pecados a um sacerdote e receber a comunhão.
O espírito religioso da Espanha e de seu rei ficou evidente no que o famoso jesuíta espanhol Pedro de Ribadeneyra disse: “Deus, nosso Senhor, cuja causa e santíssima fé defendemos, irá à nossa frente — e com um capitão assim, não temos nada a temer.” Já os ingleses esperavam que uma vitória decisiva abrisse caminho para os conceitos protestantes se espalharem pela Europa.
O plano de invasão do rei da Espanha parecia simples. Ele deu instruções para que a Armada navegasse pelo canal da Mancha e apanhasse o duque de Parma e seus 30 mil soldados veteranos posicionados em Flandres.*Então, essas forças combinadas atravessariam o canal, aportariam na costa de Essex e marchariam contra Londres. Filipe acreditava que os católicos ingleses abandonariam sua rainha protestante e engrossariam as fileiras de seu exército.
No entanto, a estratégia de Filipe tinha graves falhas. Embora acreditasse ter o apoio divino, ele despercebeu dois grandes obstáculos — o poderio da marinha inglesa e a dificuldade de apanhar as tropas do duque de Parma sem um porto de águas profundas em que eles pudessem se encontrar.

Uma frota enorme, mas desajeitada

Duque de Medina-Sidonia
O duque de Medina-Sidonia era o comandante da Armada Espanhola
Filipe escolheu o duque de Medina-Sidonia para comandar a Armada. Apesar de ter pouca experiência naval, o duque era um organizador eficiente que logo conquistou a cooperação de seus capitães veteranos. Juntos, eles formaram uma força combatente e reuniram o máximo de provisões possível para a enorme frota. Definiram meticulosamente os sinais de comunicação entre os navios, as ordens e formações de navegação que unificariam sua força multinacional.
Os 130 navios, cerca de 20 mil soldados e 8 mil marinheiros que compunham a Armada por fim partiram do porto de Lisboa em 29 de maio de 1588. Mas, por causa de ventos contrários e uma tempestade, foram obrigados a parar em La Coruña, no noroeste da Espanha, para fazer reparos e obter mais suprimentos. O duque de Medina-Sidonia, preocupado com a falta de provisões e com as doenças dos homens a bordo, escreveu com franqueza ao rei sobre suas apreensões relacionadas ao inteiro empreendimento. Mas Filipe insistiu que seu almirante aderisse ao plano. Assim, aquela frota desajeitada continuou viagem e finalmente chegou ao canal da Mancha, dois meses após sua partida de Lisboa.

Batalhas no canal da Mancha

Quando a frota espanhola chegou perto da costa de Plymouth, no sudoeste da Inglaterra, os ingleses estavam à espera. Os dois lados tinham quase a mesma quantidade de navios, mas eles eram de modelos diferentes. Os navios espanhóis eram altos e seus conveses estavam cheios de canhões de curto alcance. Com grandes torres na proa e na popa, pareciam fortalezas flutuantes. As táticas navais espanholas envolviam abordar o navio dos inimigos e subjugá-los. Os navios ingleses eram mais baixos e velozes, com mais canhões de longo alcance. O plano dos capitães era evitar contato direto com o inimigo e destruir os navios espanhóis à distância.
Para neutralizar a mobilidade e a potência de fogo superiores da frota inglesa, o almirante espanhol criou uma formação defensiva em meia-lua. Os navios mais potentes e com canhões de maior alcance ficavam nas pontas, dando proteção. De onde quer que se aproximasse o inimigo, a Armada podia virar e encará-lo assim como um búfalo aponta seus chifres contra um leão que se aproxima.
As duas frotas trocaram tiros por toda a extensão do canal da Mancha e travaram duas batalhas menores. A formação defensiva espanhola mostrou-se eficaz, e o bombardeio de longa distância dos ingleses não conseguiu afundar nenhum navio espanhol. Os capitães ingleses concluíram que precisavam encontrar um meio de desfazer a formação dos navios espanhóis e colocá-los ao alcance de seus canhões. Essa oportunidade surgiu em 7 de agosto.
O duque de Medina-Sidonia, cumprindo as ordens recebidas, levou a Armada ao encontro do duque de Parma e de suas tropas. Enquanto aguardava ordens do duque de Parma, ele mandou que a frota ancorasse perto de Calais, na costa francesa. Com os navios espanhóis atracados e vulneráveis, os ingleses lançaram oito navios carregados de combustíveis e pegando fogo. Em pânico, a maioria dos capitães espanhóis zarparam para fugir do perigo. Então, fortes ventos e correntes os empurraram para o norte.
No amanhecer do dia seguinte, travou-se a batalha decisiva. A frota inglesa atirou bem de perto contra os navios espanhóis, destruindo pelo menos três navios e danificando muitos outros. Visto terem pouca munição, os espanhóis tiveram de suportar o ataque violento sem poder fazer nada.
Uma forte tempestade obrigou os ingleses a suspender o ataque até o dia seguinte. Naquela manhã, reorganizada na formação de meia-lua e com pouca munição restante, a Armada virou em direção ao inimigo e preparou-se para lutar. Mas antes que os ingleses pudessem abrir fogo, os navios espanhóis acabaram sendo empurrados implacavelmente pelo vento e pelas correntes em direção à costa, rumo a um desastre nos bancos de areia da Zelândia, perto da costa holandesa.
Quando tudo parecia perdido, o vento mudou de direção e impeliu a Armada para o norte, na segurança do mar aberto. Mas o caminho de volta para Calais estava bloqueado pela frota inglesa, e os ventos continuavam a empurrar os navios espanhóis, muito danificados, em direção ao norte. O duque de Medina-Sidonia decidiu que não tinha outra escolha a não ser cancelar a missão e salvar o maior número possível de navios e homens. Resolveu voltar à Espanha contornando a Escócia e a Irlanda.

Tempestades e naufrágios

Os navios da Armada, muito avariados, tinham uma desgastante viagem para casa. Havia pouca comida e, nos barris perfurados, pouca água. Os ataques ingleses tinham danificado muitos navios, e poucos estavam em condições de navegar. Então, beirando a costa noroeste da Irlanda, a Armada enfrentou fortes tempestades que duraram duas semanas. Alguns navios sumiram sem deixar vestígio! Outros naufragaram perto da costa irlandesa.
Por fim, em 23 de setembro, os primeiros navios da Armada chegaram com muita dificuldade em Santander, no norte da Espanha. Uns 60 navios e só cerca da metade dos homens que haviam partido de Lisboa conseguiram voltar. Milhares deles se afogaram no mar. Muitos outros morreram na viagem de volta em decorrência de doenças ou ferimentos. A aflição não havia acabado nem mesmo para os sobreviventes que conseguiram chegar à costa espanhola.
O livro The Defeat of the Spanish Armada comenta: “Vários [tripulantes] não tinham nenhuma comida e acabaram morrendo de fome”, apesar de estarem ancorados num porto espanhol. O livro diz que um navio encalhou na enseada espanhola de Laredo “porque não havia homens suficientes para arriar as velas e lançar a âncora”.


O valor histórico da derrota

Medalha inglesa
Embora as guerras religiosas ainda prosseguissem, a derrota da Armada instilou confiança nos protestantes do norte da Europa. Eles acreditavam que sua vitória era prova do favor divino. Essa idéia fica evidente numa medalha holandesa comemorativa em que há a inscrição: Flavit Nome de Deus em Hebraico et dissipati sunt 1588, isto é, “Jeová soprou e eles foram dispersos, 1588”.
Com o tempo, a Grã-Bretanha assumiu o papel de potência mundial, conforme explica o livro Modern Europe to 1870 (A Europa Moderna até 1870): “A Grã-Bretanha emergiu em 1763 como a principal potência comercial e colonial do mundo.” De fato, “em 1763 o Império Britânico dominou o mundo como uma Roma revivificada e ampliada”, declara o livro Navy and Empire (Marinha e Império). Mais tarde, a Grã-Bretanha uniu-se à sua anterior colônia, os Estados Unidos da América, para formar a Potência Mundial Anglo-Americana.
Quem estuda a Bíblia acha fascinante a ascensão e a queda das potências políticas mundiais. Isso porque as Escrituras Sagradas falam extensivamente sobre a sucessão dos governos mundiais, a saber: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma e por último, a Potência Mundial Anglo-Americana. De fato, a Bíblia predisse com bastante antecedência a ascensão e a queda de várias dessas potências. — Daniel 8:3-820-22;Revelação (Apocalipse) 17:1-69-11.
Olhando para o passado, fica evidente que os acontecimentos do verão de 1588, quando os esforços de conquista pela Armada Espanhola fracassaram, são muito significativos. Uns 200 anos após a derrota da Armada, a Grã-Bretanha ganhou destaque mundial e, com o tempo, passou a ocupar uma posição-chave no cumprimento de profecias bíblicas.




terça-feira, 22 de maio de 2012


A Peste Negra: praga que assolou a Europa medieval

Era o ano 1347. A praga já havia devastado o Extremo Oriente  e agora chegava às fronteiras orientais da Europa.
OS MONGÓIS que sitiavam Cafa (um posto comercial genovês fortificado, hoje chamado Feodósia, na Criméia) estavam sendo dizimados pela doença misteriosa e, por isso, cessaram o ataque. Mas antes de se retirar, fizeram uma última ofensiva devastadora. Usando catapultas gigantes, lançaram por cima dos muros da cidade os corpos ainda quentes das vítimas da praga. Quando alguns soldados genoveses mais tarde fugiram em suas galés da cidade varrida pela peste, espalharam a doença a cada porto que visitaram.
Em alguns meses, a morte se alastrava pela Europa. Ela espalhou-se rapidamente para o Norte da África, Itália, Espanha, Inglaterra, França, Áustria, Hungria, Suíça, Alemanha, Escandinávia e países bálticos. Em pouco mais de dois anos, mais de um quarto da população da Europa — cerca de 25 milhões de almas — caiu vítima do que foi chamado de “a mais brutal catástrofe demográfica que a humanidade já viu”: a Peste Negra.

As causas da tragédia
Havia muito mais envolvido na tragédia da Peste Negra do que a própria doença. Vários fatores contribuíram para piorar o desastre, entre eles o fanatismo religioso. Um exemplo disso é a doutrina do purgatório. “No fim do século 13, o purgatório estava em toda a parte”, diz o historiador francês Jacques le Goff. No início do século 14, Dante lançou sua obra a Divina Comédia, cujas descrições detalhadas do inferno e do purgatório influenciaram muito as pessoas. Nesse clima religioso, as pessoas encaravam a praga com surpreendente apatia e resignação, achando que ela era um castigo divino. Como veremos, esse conceito pessimista na verdade contribuiu para que a doença se espalhasse. “Nada poderia ter preparado um terreno melhor para a praga se espalhar”, diz o livro The Black Death (A Peste Negra), de Philip Ziegler.
Outro problema foram as repetidas safras ruins na Europa. Em resultado disso, a crescente população do continente estava subnutrida, sem condições de resistir a doenças.

A praga se espalha
Segundo Guy de Chauliac, médico pessoal do Papa Clemente VI, dois tipos de peste invadiram a Europa: a pneumônica e a bubônica. Ele descreveu detalhadamente essas doenças, dizendo: “A primeira durou dois meses, com febre contínua e escarro sanguinolento, e a pessoa morria em três dias. A segunda durou pelo resto do período, também com febre contínua, mas com apostemas [abscessos] e carbúnculos nas partes externas, principalmente nas axilas e na virilha. A pessoa morria em cinco dias.” Os médicos não conseguiam deter o avanço da praga.
Muitas pessoas fugiram em pânico, deixando milhares de infectados para trás. De fato, os primeiros a fugir foram os nobres abastados e os profissionais. Embora alguns clérigos também tenham fugido, muitas ordens religiosas se esconderam nos mosteiros, esperando escapar da contaminação.
Em meio ao pânico, o papa declarou 1350 um Ano Santo. Os peregrinos que fossem a Roma receberiam acesso direto ao paraíso sem precisar ir para o purgatório. Centenas de milhares de peregrinos atenderam à convocação, espalhando a praga durante a viagem.

Esforços frustrados
Os esforços para controlar a Peste Negra foram em vão porque ninguém sabia realmente como ela era transmitida. Muitos perceberam que o contato com um doente, ou até com a sua roupa, era perigoso. Alguns tinham medo até do olhar do doente. Mas os moradores de Florença, na Itália, achavam que os cães e gatos eram culpados pela praga. Mataram esses animais sem saber que, ao fazerem isso, abriam caminho para a criatura que realmente estava envolvida na transmissão da doença: o rato.
À medida que as mortes aumentavam, alguns passaram a se voltar para Deus em busca de ajuda. Homens e mulheres davam tudo o que tinham para a Igreja, esperando que Deus os protegesse da doença, ou que pelo menos os recompensasse com a vida celestial caso morressem. Com isso, a Igreja acumulou enorme riqueza. Alguns antídotos populares eram amuletos da sorte, imagens de Cristo e talismãs. Outros recorriam à superstição, à magia e à pseudomedicina para se curar. Dizia-se que perfumes, vinagre e poções especiais podiam afastar a doença. Outro tratamento muito usado era a sangria. A renomada faculdade de medicina da Universidade de Paris até atribuiu a praga ao alinhamento dos planetas. Falsas explicações e “curas”, porém, não contribuíram em nada para deter o avanço dessa praga assassina.

Efeitos duradouros
Depois de cinco anos, a Peste Negra parecia ter finalmente terminado. Mas antes do fim do século, ela ainda atacaria pelo menos quatro vezes. Os seus efeitos têm sido comparados aos da Primeira Guerra Mundial. “Praticamente todos os historiadores modernos concordam que o surgimento da peste endêmica teve conseqüências profundas tanto na economia quanto na sociedade depois de 1348”, diz o livro The Black Death in England (A Peste Negra na Inglaterra), de 1996. A praga dizimou boa parte da população e certas regiões levaram séculos para se recuperar. Com uma força de trabalho menor, o custo da mão-de-obra naturalmente subiu. Ricos proprietários de terras faliram e o sistema feudal — uma marca registrada da Idade Média — entrou em colapso.
Portanto, a peste deu ímpeto a mudanças políticas, religiosas e sociais. Antes dela, a classe culta na Inglaterra em geral falava francês. Mas devido à morte de muitos professores de francês, a língua inglesa ganhou mais importância que a francesa na Grã-Bretanha. Houve também mudanças religiosas. Como menciona a historiadora francesa Jacqueline Brossollet, devido à diminuição de candidatos ao sacerdócio, “a Igreja muitas vezes teve de recrutar pessoas ignorantes e apáticas”. Brossollet afirma que “a decadência de centros de estudo e fé [da Igreja] foi uma das causas da Reforma”.
A Peste Negra sem dúvida deixou sua marca na arte, pois a morte tornou-se um tema artístico comum. A famosa dança macabra, gênero que em geral representa esqueletos e cadáveres, tornou-se uma alegoria popular sobre o poder da morte. Incertos acerca do futuro, muitos sobreviventes da praga abandonaram todas as restrições morais. Assim, a moralidade chegou ao fundo do poço. Visto que a Igreja não conseguira evitar a Peste Negra, “o homem medieval achou que sua Igreja o havia decepcionado”. (The Black Death) Alguns historiadores dizem também que as mudanças sociais que resultaram da Peste Negra promoveram o individualismo e a iniciativa, aumentando a mobilidade social e econômica — os precursores do capitalismo.
A Peste Negra também obrigou os governos a instalar sistemas de saneamento. Depois que a praga acabou, Veneza tomou medidas para limpar as ruas. De modo similar, na França, o Rei João II, o Bom, ordenou que as ruas fossem limpas a fim de fazer face à ameaça de epidemias. O rei mandou fazer isso depois de saber que um antigo médico grego havia salvado Atenas de uma praga limpando e lavando as ruas. Muitas ruas medievais, que haviam sido esgotos a céu aberto, foram finalmente saneadas.

Coisa do passado?
Mas foi apenas em 1894 que o bacteriologista francês Alexandre Yersin isolou o bacilo responsável pela Peste Negra. Foi chamado de Yersinia pestis em sua homenagem. Quatro anos depois, outro francês, Paul-Louis Simond, descobriu o papel da pulga dos ratos na transmissão da doença. Logo foi desenvolvida uma vacina relativamente eficaz.
Será que a peste é coisa do passado? Não. No inverno de 1910, umas 50.000 pessoas morreram de peste na Mandchúria. Todo ano a Organização Mundial da Saúde registra milhares de novos casos e o número continua aumentando. Descobriram-se também novas cepas da doença que resistem ao tratamento. De fato, se não forem seguidas normas básicas de higiene, a peste continuará a ameaçar a humanidade. Assim, o livro Pourquoi la peste? Le rat, la puce et le bubon (Por Que a Peste? O Rato, a Pulga e o Bubão), editado por Jacqueline Brossollet e Henri Mollaret, conclui que “longe de ser uma doença da velha Europa na Idade Média, . . . infelizmente a peste talvez seja a doença do futuro”.


A seita dos flagelantes
Algumas pessoas que encaravam a peste como um castigo divino tentaram aplacar a ira de Deus chicoteando, ou flagelando, a si mesmas. A Irmandade dos Flagelantes, um movimento que, segundo dizem, reunia 800.000 seguidores, teve seu auge de popularidade durante a Peste Negra. As regras da seita proibiam falar com mulheres, lavar-se ou trocar de roupas. Praticavam a flagelação pública duas vezes por dia.
  “A flagelação era uma das poucas maneiras de que a população aterrorizada dispunha para extravasar”, menciona o livro Medieval Heresy (Heresia Medieval). Os flagelantes também se destacavam por denunciar a hierarquia da Igreja e sua prática lucrativa de conceder absolvição. Não admira então que, em 1349, o papa tenha condenado a seita. Por fim, porém, o movimento enfraqueceu por conta própria depois do fim da Peste Negra.

Fonte: Revista Despertai

segunda-feira, 21 de maio de 2012


Saiba o que é heráldica

A heráldica é o estudo dos emblemas e dos brasões ou a arte de formar e descrever brasões de armas, também designada de armaria.
Enquanto os emblemas são símbolos pictóricos de grupos sociais com interesses convergentes, os brasões cumprem papel equivalente em relação aos membros de determinadas linhagens de famílias.
A heráldica teve seu princípio por volta do século XII, contudo sua origem vem a ser mais remota do que se pensa.
A utilização de determinados símbolos e cores para identificar indivíduos, famílias, tribos ou clãs é um costume que se perde no tempo. Alguns historiadores relacionam o uso de emblemas com as cruzadas, outros acreditam que a origem é ainda mais antiga.
As origens do uso de brasões se perdem na história. Há evidências arqueológicas na Grécia Antiga, Roma e até entre as tribos africanas.
Símbolos pagãos da Europa pré-cristã foram transformados em brasões a partir do século IX. Encontramos cenas na idade remota, como demonstra a magnificência das figuras nos escudos dos heróis homéricos.
As mais antigas ilustrações dos primitivos brasões europeus que a história preservou, podem ser apreciadas nas tapeçarias de Bayeux que datam do ano 1080 d.C.
Foi no grande cenário das Cruzadas que a exigência se manifestou maciçamente pela primeira vez; quando algum cavaleiro avançava em terras longínquas do oriente tinha a necessidade de ostentar um símbolo que o distinguisse de outros. Mas só começaram a popularizar-se 30 ou 40 anos após as Cruzadas.
Os primeiros desenhos heráldicos (ainda antes do século XIII) eram simples, rústicos sem padronização. O contato dos participantes das cruzadas com a cultura oriental é que os tornaram artisticamente mais elaborados. Foram estabelecendo-se certos padrões estruturais, ao mesmo tempo em que foi adotado o escudo militar como a superfície para a sua fixação e exibição, o que os fez ficarem verticais, como aquele artefato defensivo.
Em quase todas as classes de Heráldica o brasão é constituído por uma parte central chamada escudo, porque nos escudos dos cavaleiros eram pintados os símbolos que eles tinham escolhido ou herdado.
Todos os elementos das armas, ou brasão, que ficam fora do escudo, chamam-se signos exteriores, para revelar a categoria feudal de seu proprietário, como o elmo, virol, coroa, timbre, lambrequins ou paquifes, suporte, tenente, lema e outros adereços circunstanciais.
Os arautos ou mestre de armas anunciavam os feitos e descreviam os escudos dos cavaleiros, porque antigamente os que se apresentavam para lutar nos torneios, eram anunciados com o tocar das trombetas.Na corte, a tarefa de anunciar alguma coisa para o povo era confiada aos arautos, que tinham a missão oficial de levar as declarações de guerra e estabelecimento da paz.
O papel dos arautos era o de zelar por tudo que dizia respeito a brasões e títulos de nobreza, enfrentando os usurpadores de títulos e armoriais, cabendo-lhes a missão de publicar as datas das celebrações de festas e torneios entre as ordens de cavalaria, colocando em lugares bem visíveis os brasões dos cavaleiros que se enfrentariam.

Os arautos também tinham a missão de sortear o cavaleiro que teria o combate a seu favor - a condição de não lutar contra o sol.Os símbolos pessoais e familiares são antiquíssimos e com eles veio a heráldica, quando eles foram utilizados dentro dos escudos de combate.
Esta arte esteve ativa até o final do século XVIII, quando a febre política da república, um movimento novo que tomava conta do mundo desde a queda da bastilha na França, extinguiu, por vezes a fio de espadas, o ofício de blasonaria.Muitos mestres d'armas foram assassinados, Famílias inteiras eram banidas por continuarem ostentando seus brasões nas soleiras de suas casas e armoriais, livros que continham os registros brasonários desde o século XII, foram queimados em praça pública, tudo isso porque os republicanos temiam que através desses símbolos o povo continuasse ligado à monarquia ou até mesmo, reivindicasse a sua volta. Sob a constante ameaça das lâminas republicanas foi fácil impedir que isso acontecesse. Alguns clãs, no entanto, conseguiram fazer com que a tradição da brasonaria ficasse viva até os dias de hoje. Ocultaram os armoriais em seus porões, alguns foram embalados em baús de madeira tratada, ou de louças e enterrados em suas quintas. Outros, na clandestinidade, conseguiram passar de mestre para discípulo e de pai para filho a arte da heráldica.

A heráldica ensina a compreender e ler os brasões, isto é, os símbolos da antiga nobreza, que indicam as genealogias, os títulos e a história dos indivíduos, das famílias e das nações.
Na sua complexidade, encerra grandes belezas e testemunha todo o modo de viver duma sociedade desaparecida. Nas batalhas travadas no período medieval, a função do brasão era de identificar o aliado e o inimigo. Pintados nos escudos, nas bandeirolas e nos arreios dos cavalos, impediam a confusão certa, numa época em que não era comum o uso de uniformes militares padronizados, nem a alfabetização era comum, e assim, os brasões preenchiam essas lacunas de comunicação.
Assim nasceu a heráldica, antes de escrever com letras a humanidade escrevia com símbolos. As ilustrações que decoram os escudos dos brasões representam as figuras que tiveram alguma relação causal com a sua origem histórica.
Se o fundador da linhagem se distinguiu por um ato de bravura em ataque ou defesa bélica, como prêmio, o rei concedia-lhe um brasão ornamentado com a arma ofensiva (flechas, lanças, machados e espadas) usada na ocasião; seteiras, torres, muros, portões blindados e similares simbolizavam êxitos defensivos. Havia também distinções nobiliárquicas concedidas a protagonistas de episódios extraordinários ocorridos em caçadas reais, eram memorizados com figuras de animais selvagens.
Ferimentos graves sofridos por combatentes audazes apareciam ilustrados no escudo sob a forma de partes do corpo humano atingidos pela injúria. Plantas, animais domésticos e mitológicos, cruzes, ferramentas, figuras geométricas e eventualmente, suas combinações, tinham motivos factuais com as atividades locais, militares, econômicas, religiosas e sociais da época.
Não há dúvida que o primeiro símbolo heráldico foi a cruz exibida nos escudos das batalhas travadas na Terra Santa: cruz azul para os cavaleiros provenientes da Itália; branca para os franceses; preta ou laranja para os alemães; vermelha para os portugueses e espanhóis; verde para os saxões; amarela e vermelha para os ingleses.

Seja como for, o uso regulamentado dos símbolos heráldicos se estabelece no feudalismo, para diferenciar os cavaleiros em suas intermináveis guerras e torneios. A força expressiva dos brasões se afinou com a adoção de cores destinadas a sublinhar uma particularidade individual dos cavaleiros: a pureza e a fé com o branco, a esperança e o ardor com o verde, a melancolia com o preto, a revanche era representada pelo vermelho, a riqueza e as honras com o amarelo. Reconstruindo assim, o sentido de uma multiplicidade de imagens retratando ações, lendas, superstições, dinastias, triunfos e derrotas.
Nessa época, para evitar duplicações e confusões, os emblemas e cores do escudo são rigidamente codificados. A mistura dessas regras é que consentem adentrar-se nesse mundo de emblemas, que é à base daquela que por séculos foi considerada uma ciência por excelência, denominada heráldica.
Os escudos em que se pintam, interna ou externamente, os símbolos desta linguagem podem ser de metais, cores ou peles, considerados os primeiros e segundos “esmaltes”.
Os metais são dois (ouro e prata), as cores são cinco (azul, vermelho, negro, verde e púrpura) e as peles são quatro (arminho e contra-arminho, veiros e contra-veiros).
Os gregos foram os primeiros a dar nomes aos esmaltes heráldicos, fazendo-os corresponder aos dias da semana e aos sete planetas. Os talhos e golpes recebidos na guerra sobre os escudos foram representados sobre esses com esmaltes e cores, depois veio o uso de neles pintar imagens e retratos dos antepassados que valentemente se portaram nos combates, o que passou a servir de marca e sinal para se conhecer o guerreiro que o trazia. Nos limites estreitos dum simples estudo, explicaremos o significado dos sete esmaltes.
Esse significado é, no dizer dos mestres heraldistas, um verdadeiro mistério que envolve na sua simbologia a vida do homem no sentido espiritual e material, a natureza que o rodeia e o próprio código de honra que deve nortear a sua ação de fidalgo e cavaleiro.
Tais esmaltes indicam as virtudes e qualidades do individuo, correspondem aos minerais, aos vegetais, a cronologia e ao sistema planetário, aos próprios ditames do código da antiga cavalaria.
A própria necessidade de identificação de facções aliadas ou rivais, tanto em tempo de paz como principalmente durante as batalhas, tornou indispensável o uso dos brasões. A armadura e o elmo cobriam o combatente e o seu rosto ficava escondido pela viseira, tornando-o um ilustre desconhecido, mesmo para muitos de seus companheiros de armas. A solução óbvia foi justamente à adoção de brasões sobre os escudos, facilitando o reconhecimento daqueles que eram os aliados e daqueles outros que deveriam ser atacados. Até aproximadamente o século XV, em época de guerra, todos os indivíduos masculinos em idade hábil e membros de um clã, constituíam unidades militares próprias que eram identificadas pelos escudos.

Na maioria dos países europeus, cada família fidalga era dona de um brasão próprio. No caso de batalha, não era tão fácil lembrar-se de todos os aliados, a não ser que se conhecesse as centenas de brasões amigos. Um verdadeiro quebra-cabeça até para um especialista em semiótica!

Com o advento de bandeiras nacionais, os brasões passaram a ter mais significado político e jurídico do que militar, como símbolos de grupos coesos. 
Vistos sob um ângulo histórico retratam os acontecimentos de uma época, haja vista que a sua concessão, como já foi mencionado, relaciona-se a fatos considerados extraordinários na época. Os brasões não eram, porém destinados a permanecerem invariáveis nos séculos. Ao contrário, as grandes famílias de tempo em tempo inseriam neles novos empreendimentos obtidos no campo de batalha.
As regras heráldicas andaram se complicando pela necessidade de inserir nos brasões os efeitos de matrimônios, aliança, união e divisões de bens. Como podemos observar, o brasão era o principal símbolo de status dessa classe de pessoas. A Heráldica de qualquer país faz parte de sua herança cultural. Estudá-la e conhecê-la é desvendar o patrimônio social da nação.
As mudanças geopolíticas trouxeram ao Brasil muitos descendentes das seculares famílias européias.
Os brasões foram símbolos marcantes no período medieval, e por que não dizê-lo, continuaram sendo até os nossos dias. Claro, hoje, mais por uma sensação do status histórico assegurado pelos ascendentes que consolidaram e perpetuaram a linhagem ou clã. Mesmo considerando que alguns daqueles fidalgos se pauperizaram diante das vicissitudes fatalísticas da história.
Aliás, os imigrantes que vieram para colonizar o Brasil, estavam em condições equivalentes.
Todavia, as origens permaneceram, obviamente, inalteradas, o que permite supor que a maioria dos descendentes dos europeus seja no Brasil, seja em outros países, têm o direito histórico ao brasão da estirpe.