Saiba o que é heráldica
A heráldica é o estudo dos emblemas e dos brasões ou a arte
de formar e descrever brasões de armas, também designada de armaria.
Enquanto os emblemas são símbolos pictóricos de grupos
sociais com interesses convergentes, os brasões cumprem papel equivalente em
relação aos membros de determinadas linhagens de famílias.
A heráldica teve seu princípio por volta do século XII,
contudo sua origem vem a ser mais remota do que se pensa.
A utilização de determinados símbolos e cores para identificar
indivíduos, famílias, tribos ou clãs é um costume que se perde no tempo. Alguns
historiadores relacionam o uso de emblemas com as cruzadas, outros acreditam
que a origem é ainda mais antiga.
As origens do uso de brasões se perdem na história. Há
evidências arqueológicas na Grécia Antiga, Roma e até entre as tribos
africanas.
Símbolos pagãos da Europa pré-cristã foram transformados em
brasões a partir do século IX. Encontramos cenas na idade remota, como
demonstra a magnificência das figuras nos escudos dos heróis homéricos.
As mais antigas ilustrações dos primitivos brasões europeus
que a história preservou, podem ser apreciadas nas tapeçarias de Bayeux que
datam do ano 1080 d.C.
Foi no grande cenário das Cruzadas que a exigência se
manifestou maciçamente pela primeira vez; quando algum cavaleiro avançava em
terras longínquas do oriente tinha a necessidade de ostentar um símbolo que o
distinguisse de outros. Mas só começaram a popularizar-se 30 ou 40 anos após as
Cruzadas.
Os primeiros desenhos heráldicos (ainda antes do século
XIII) eram simples, rústicos sem padronização. O contato dos participantes das cruzadas com a cultura
oriental é que os tornaram artisticamente mais elaborados. Foram estabelecendo-se certos padrões estruturais, ao mesmo
tempo em que foi adotado o escudo militar como a superfície para a sua fixação
e exibição, o que os fez ficarem verticais, como aquele artefato defensivo.
Em quase todas as classes de Heráldica o brasão é
constituído por uma parte central chamada escudo, porque nos escudos dos
cavaleiros eram pintados os símbolos que eles tinham escolhido ou herdado.
Todos os elementos das armas, ou brasão, que ficam fora do
escudo, chamam-se signos exteriores, para revelar a categoria feudal de seu
proprietário, como o elmo, virol, coroa, timbre, lambrequins ou paquifes,
suporte, tenente, lema e outros adereços circunstanciais.
Os arautos ou mestre de armas anunciavam os feitos e
descreviam os escudos dos cavaleiros, porque antigamente os que se apresentavam
para lutar nos torneios, eram anunciados com o tocar das trombetas.Na corte, a tarefa de anunciar alguma coisa para o povo era
confiada aos arautos, que tinham a missão oficial de levar as declarações de
guerra e estabelecimento da paz.
O papel dos arautos era o de zelar por tudo que dizia
respeito a brasões e títulos de nobreza, enfrentando os usurpadores de títulos
e armoriais, cabendo-lhes a missão de publicar as datas das celebrações de
festas e torneios entre as ordens de cavalaria, colocando em lugares bem visíveis
os brasões dos cavaleiros que se enfrentariam.
Os arautos também tinham a missão de sortear o cavaleiro que
teria o combate a seu favor - a condição de não lutar contra o sol.Os símbolos pessoais e familiares são antiquíssimos e com
eles veio a heráldica, quando eles foram utilizados dentro dos escudos de
combate.
Esta arte esteve ativa até o final do século XVIII, quando a
febre política da república, um movimento novo que tomava conta do mundo desde
a queda da bastilha na França, extinguiu, por vezes a fio de espadas, o ofício
de blasonaria.Muitos mestres d'armas foram assassinados, Famílias inteiras
eram banidas por continuarem ostentando seus brasões nas soleiras de suas casas
e armoriais, livros que continham os registros brasonários desde o século XII,
foram queimados em praça pública, tudo isso porque os republicanos temiam que
através desses símbolos o povo continuasse ligado à monarquia ou até mesmo,
reivindicasse a sua volta. Sob a constante ameaça das lâminas republicanas foi fácil
impedir que isso acontecesse. Alguns clãs, no entanto, conseguiram fazer com que a
tradição da brasonaria ficasse viva até os dias de hoje. Ocultaram os armoriais em seus porões, alguns foram
embalados em baús de madeira tratada, ou de louças e enterrados em suas
quintas. Outros, na clandestinidade, conseguiram passar de mestre para
discípulo e de pai para filho a arte da heráldica.
A heráldica ensina a compreender e ler os brasões, isto é,
os símbolos da antiga nobreza, que indicam as genealogias, os títulos e a história
dos indivíduos, das famílias e das nações.
Na sua complexidade, encerra grandes belezas e testemunha
todo o modo de viver duma sociedade desaparecida. Nas batalhas travadas no período medieval, a função do
brasão era de identificar o aliado e o inimigo. Pintados nos escudos, nas bandeirolas e nos arreios dos
cavalos, impediam a confusão certa, numa época em que não era comum o uso de
uniformes militares padronizados, nem a alfabetização era comum, e assim, os
brasões preenchiam essas lacunas de comunicação.
Assim nasceu a heráldica, antes de escrever com letras a
humanidade escrevia com símbolos. As ilustrações que decoram os escudos dos brasões
representam as figuras que tiveram alguma relação causal com a sua origem
histórica.
Se o fundador da linhagem se distinguiu por um ato de
bravura em ataque ou defesa bélica, como prêmio, o rei concedia-lhe um brasão
ornamentado com a arma ofensiva (flechas, lanças, machados e espadas) usada na
ocasião; seteiras, torres, muros, portões blindados e similares simbolizavam
êxitos defensivos. Havia também distinções nobiliárquicas concedidas a
protagonistas de episódios extraordinários ocorridos em caçadas reais, eram
memorizados com figuras de animais selvagens.
Ferimentos graves sofridos por combatentes audazes apareciam
ilustrados no escudo sob a forma de partes do corpo humano atingidos pela
injúria. Plantas, animais domésticos e mitológicos, cruzes,
ferramentas, figuras geométricas e eventualmente, suas combinações, tinham
motivos factuais com as atividades locais, militares, econômicas, religiosas e
sociais da época.
Não há dúvida que o primeiro símbolo
heráldico foi a cruz exibida nos escudos das batalhas travadas na Terra Santa:
cruz azul para os cavaleiros provenientes da Itália; branca para os franceses;
preta ou laranja para os alemães; vermelha para os portugueses e espanhóis;
verde para os saxões; amarela e vermelha para os ingleses.
Seja como for, o uso regulamentado dos símbolos heráldicos
se estabelece no feudalismo, para diferenciar os cavaleiros em suas
intermináveis guerras e torneios. A força expressiva dos brasões se afinou com a adoção de
cores destinadas a sublinhar uma particularidade individual dos cavaleiros: a
pureza e a fé com o branco, a esperança e o ardor com o verde, a melancolia com
o preto, a revanche era representada pelo vermelho, a riqueza e as honras com o
amarelo. Reconstruindo assim, o sentido de uma multiplicidade de
imagens retratando ações, lendas, superstições, dinastias, triunfos e derrotas.
Nessa época, para evitar duplicações e confusões, os
emblemas e cores do escudo são rigidamente codificados. A mistura dessas regras
é que consentem adentrar-se nesse mundo de emblemas, que é à base daquela que
por séculos foi considerada uma ciência por excelência, denominada heráldica.
Os escudos em que se pintam, interna ou externamente, os
símbolos desta linguagem podem ser de metais, cores ou peles, considerados os
primeiros e segundos “esmaltes”.
Os metais são dois (ouro e prata), as cores são cinco (azul,
vermelho, negro, verde e púrpura) e as peles são quatro (arminho e
contra-arminho, veiros e contra-veiros).
Os gregos foram os primeiros a dar nomes aos esmaltes
heráldicos, fazendo-os corresponder aos dias da semana e aos sete planetas. Os talhos e golpes recebidos na guerra sobre os escudos
foram representados sobre esses com esmaltes e cores, depois veio o uso de
neles pintar imagens e retratos dos antepassados que valentemente se portaram
nos combates, o que passou a servir de marca e sinal para se conhecer o
guerreiro que o trazia. Nos limites estreitos dum simples estudo, explicaremos o
significado dos sete esmaltes.
Esse significado é, no dizer dos mestres heraldistas, um
verdadeiro mistério que envolve na sua simbologia a vida do homem no sentido
espiritual e material, a natureza que o rodeia e o próprio código de honra que
deve nortear a sua ação de fidalgo e cavaleiro.
Tais esmaltes indicam as virtudes e qualidades do individuo,
correspondem aos minerais, aos vegetais, a cronologia e ao sistema planetário,
aos próprios ditames do código da antiga cavalaria.
A própria necessidade de identificação de facções aliadas ou
rivais, tanto em tempo de paz como principalmente durante as batalhas, tornou
indispensável o uso dos brasões. A armadura e o elmo cobriam o combatente e o seu rosto
ficava escondido pela viseira, tornando-o um ilustre desconhecido, mesmo para
muitos de seus companheiros de armas. A solução óbvia foi justamente à adoção de brasões sobre os
escudos, facilitando o reconhecimento daqueles que eram os aliados e daqueles
outros que deveriam ser atacados. Até aproximadamente o século XV, em época de guerra, todos
os indivíduos masculinos em idade hábil e membros de um clã, constituíam
unidades militares próprias que eram identificadas pelos escudos.
Na maioria dos países europeus, cada família fidalga era
dona de um brasão próprio. No caso de batalha, não era tão fácil lembrar-se de todos os
aliados, a não ser que se conhecesse as centenas de brasões amigos. Um
verdadeiro quebra-cabeça até para um especialista em semiótica!
Com o advento de bandeiras nacionais, os brasões passaram a ter mais significado político e jurídico do que militar, como símbolos de grupos coesos. Vistos sob um ângulo histórico retratam os acontecimentos de uma época, haja vista que a sua concessão, como já foi mencionado, relaciona-se a fatos considerados extraordinários na época. Os brasões não eram, porém destinados a permanecerem invariáveis nos séculos. Ao contrário, as grandes famílias de tempo em tempo inseriam neles novos empreendimentos obtidos no campo de batalha.
As regras heráldicas andaram se complicando pela necessidade
de inserir nos brasões os efeitos de matrimônios, aliança, união e divisões de
bens. Como podemos observar, o brasão era o principal símbolo de
status dessa classe de pessoas. A Heráldica de qualquer país faz parte de sua herança
cultural. Estudá-la e conhecê-la é desvendar o patrimônio social da nação.
As mudanças geopolíticas trouxeram ao Brasil muitos
descendentes das seculares famílias européias.
Os brasões foram símbolos marcantes no período medieval, e
por que não dizê-lo, continuaram sendo até os nossos dias. Claro, hoje, mais por uma sensação do status histórico
assegurado pelos ascendentes que consolidaram e perpetuaram a linhagem ou clã. Mesmo considerando que alguns daqueles fidalgos se
pauperizaram diante das vicissitudes fatalísticas da história.
Aliás, os imigrantes que vieram para colonizar o Brasil,
estavam em condições equivalentes.
Todavia, as origens permaneceram, obviamente, inalteradas, o
que permite supor que a maioria dos descendentes dos europeus seja no Brasil,
seja em outros países, têm o direito histórico ao brasão da estirpe.
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