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quarta-feira, 25 de abril de 2012


JudeuSefarditas

Obra: Raízes Judaicas no Brasil – O Arquivo secreto da Inquisição
 Flávio Mendes de Carvalho

A perseguição dos Judeus pela Inquisição Católica
Parte 2


Neste período, final do século XV, algumas leis portuguesas, apesar de discriminá-los. Objetivavam assimilar esta parte do povo; o filho de judeu que se convertesse ao catolicismo tinha desde logo o direito de receber sua parte da herança, supondo-se falecidos os pais, para este efeito. Era proibido ao judeu deserdar seu filho por mudanças de crença.

Em 1496, no Mês de dezembro, estando Dom Manuel I em Muge, expediu-se o édito de expulsão dos judeus, dando-se o prazo de 10 meses, sob pena de morte e confisco de todos os seus bens, para a saída definitiva do país. Este édito criou situações terríveis, uma vez que, decepadas suas raízes, teriam que vender suas casas, vinhas e outras posses, sujeitando-se  aos preços vis que a ocasião propiciava.
Por determinação real, todos os portos portugueses, exceto o de Lisboa, foram fechados para a emigração judaíca. A secreta decisão oficial de não deixá-los partir, mesmos expulsos, e a não existência de navios disponíveis e mantimentos necessários às viagens ocasionou grande concentração de hebreus nesta praça.
Em abril de 1497, expediram-se ordens para que se tomassem os filhos menores de quatorze anos dos judeus que, à conversão ao catolicismo, houvessem optado pelo desterro. E que as crianças judias fossem distribuídas pelas cidades e aldeias, para que se criassem e se educassem no seio de famílias católicas.
Quando a notícia deste decreto transpirou entre o povo banido, o terror grassou por todos os pontos do país. Gritos de mães, de cujos braços arrancavam os filhos; gemidos  e desespero de país e irmãos; reações e lutas dos mais fortes e audaciosos; lágrimas e inúteis súplicas dos mais fracos e tímidos, convertiam o reino português no cenário de um drama diabólico. Muitos pais, no delírio da resistência, preferiam matar os filhos e, logo após, suicidar-se a entregá-los aos oficiais do rei. No decurso desta perseguição, os judeus conheceram a dura sorte que os esperava. Queriam compelí-los , a qualquer custo, à aceitação do batismo católico.
Em outubro de 1497, aglomeravam-se, nos estaus de Lisboa, mais de vinte mil judeus, quando então celebrou-se a mais demoníaca e inumana manifestação de opressão e violência. Uma macabra festa onde a gentalha portuguesa, encabeçada por padres e protegida por oficiais régios, caiu sobre homens, mulheres e velhos judeus e , depois de batizar violentamente a mocidade judaica, passaram a batizar adultos e velhos. Os que resistiam eram golpeados e arrastados pelos cabelos à pia batismal. Oprimidos, humilhados, expulsos, espoliados, violentados, sem direito a qualquer justiça terrestre, alquebrados pela fome, pelos maus tratos, com suas mentes já no limites da loucura, suas almas despedaçadas, postos entre a possibilidade da morte a que a lei os condenava se não saíssem de Portugal e os obstáculos levantados pelo legislador para que sua saída do país se tornasse impossível, estes infelizes curvavam a cabeça e submeteram-se ao batismo católico.
O sacrifício estava consumado. Os batizados, agora não mais judeus e sim “cristãos novos”, continuaram expostos à malevolência popular que não tardaria a acusá-los da “criminosa” atitude de voltar, no segredo de seus lares, à prática do Judaísmo. Tal clima desencadeou em 15 de abril de 1506, o morticínio de milhares de judeus no “pogrom” de Lisboa.  No Domingo seguinte, ao meio-dia, celebrados os ofícios, examinava o povo a suposta Maravilha, isto é, o aparecimento de uma estranha luz, contra cuja autenticidade recreciam suspeitas no espírito de muitos espectadores. Achavam-se entre estes um cristão-novo, ao qual escaparam da boca manifestações imprudentes de incredulidade acerca do milagre. A indignação dos crentes, excitadas, provavelmente pelos autores da burla, comunicou-se à multidão. O miserável blasfemador arrastado para o adro, assassinado e queimado o seu cadáver. Segiu-se um longo drama de anarquia. Os cristãos-novos que andavam pelas ruas, desprevenidos, eram mortos ou malferidos , e arrastados semivivos, para as folgueiras que rapidamente se tinham armado, tanto no Rossio como nas Ribeiras do Tejo. Nesta praça foram queimadas, nesta tarde, cerca de trezentas pessoas.
Alguns, porém, ao longo de todas as  perseguições, conseguem fugir e assim, judeus portugueses fundam, em 1593, as primeiras comunidades de Amsterdan.
Gaspar de Lemos, o judeu, também conhecido como Gaspar da Gama ( por Ter sido adotado por Vasco da Gama, nas Índias ) ou Gaspar das Índias, capitão-mor de Pedro Álvares Cabral, do navio que levava os mantimentos da expedição que descobriu o Brasil em 1500, era homem que falava muitos idiomas, recebia cartas diretas do rei Dom Manuel I, era respeitado pelos seus conhecimentos marítimos, e segundo Afrãnio Peixoto e Alexandre von Humboldt é considerado co-descobridor do Brasil.
Fernando de Noronha, dois anos após o descobrimento do Brasil, lidera um grupo de judeus portugueses e apresenta a Dom Manuel I a primeira proposta de colonização do Brasil, que é aceita e firmada em 1503.
Quando em 1531 Dom João III decide mandar Martim Afonso de Souza chefiando a primeira expedição colonizadora ao Brasil, este já encontra dois interessantes núcleos de desenvolvimento, umo no nordeste e outro no sul. Na Bahia é recebido por Caramuru ( Diogo Álvares Correia ), de notória família judaica-portuguesa, rodeado de filhos e casado com a índia Paraguaçu, filha do cacique Taparicá. Tão grande a importância de Caramuru, que o rei Dom João III redige, 19.11.1548, carta pedindo que ajude ao primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza. Sua aldeia, “Vila Velha”, transforma-se no ano seguinte na primeira capital do Brasil – Salvador.

No sul, em 1532, Martim Afonso de Souza, encontra João Ramalho, cuja lendária chegada ao Brasil remonta a 1497, época da expulsão dos judeus de Portugal. Torna-se verdadeiro líder dos índios Guayanazes casando-se com Bartira, filha do cacique Tibiriçá. Nutria verdadeira aversão aos  padres. Recebeu de Martim Afonso de Souza o cargo de capitão-mor e sua aldeia transformou-se na primeira cidade brasileira fora do litoral – Piratininga, depois Santo André da Borda do Campo, atualmente Santo André, cidade pertencente a região do Grande ABC. Foi também co-fundador de São Vicente. Extremamente curiosa é a letra hebraica que João Ramalho usava no meio de sua assinatura.

Amanhã a terceira parte desse assunto.


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